QUASE PRETO


Ideias perdidas em um mundo onde pessoas querem se encontrar obrigatoriamente.
Mentes vendidas e a certeza de que devemos ser originais...encaixados visualmente.

Preto,
Eles disseram que o nome era feio, tentei explicar que elevei tudo isto a um novo plano, mas isto não significa que eu aceito desrespeito! A comunidade voltou-se contra este meu posicionamento, acreditas meu preto?
Soa mal até dizer em voz alta. Fico parvo que me tenham metido isto na mente! Eu digo em frente ao espelho, soa bem enquanto não me perco a olhar para o meu corpo e perceber que não é bem bem preto. Acreditas neste feito?

Preto,
Tudo o que digo é imperfeito! Se eu reclamar não mereço respeito. Se denunciar um parvo ou outro, estou a inferiorizar o meu ser e quero arranjar confusão e viver na base da pena.
Pena, disseram pena! Acreditas meu preto?
Como se eu precisasse da pena de alguém para viver e ser preto. Como se a pena e as lágrimas fariam de mim mais sortudo ou um homem de respeito! É que nem o suor dos que partiram e muito menos o sangue dos que fugiram comove esta gente racista e com defeitos, como falar de pena por ser preto?

Preto,
Elevei a cultura a um outro nível, ninguém percebe o reinventar dos nossos "niggas", um simples falar e denunciar é demais para este momento, feridas que não saram nem com mais uma porrada de história e sangue a percorrer pelas ruas.

Preto,
Eu nunca pensei que seria necessário explicar de onde vim para quem me vê e sabe bem onde nasci. Sim, vives aqui, mas és de onde? Pergunta mais estúpida! Querem que eu venda a minha cara, querem que eu denuncie a minha cor, mas quando digo de onde vim, fazem pouco da minha dor! Querem que eu seja preto, mas sem ser demais, querem que eu fale um pouco, mas não querem nunca que eu avance a ponto de denunciar. Querem que eu fale do exótico, mas o exótico para mim é matar, quem pele diferente tem, mas que continua com uma alma igual aos restantes em um mesmo lar.

Preto,
Querem que eu deixe de falar da luta contra o racismo, querem que eu fale do humanismo. Engraçado, nós não somos iguais! Por mais que queiramos ser, nós não somos iguais. Não há nada de mal nisto, somos seres de vários lugares, carregamos dores de diferentes espaços, temos a história nas costas e não podemos mudar. Não podemos não...O que podemos é mudar o presente. Até pareço um doido a falar disto tudo. Presente!! Onde atiram antes e perguntam depois, onde cospem antes e mentem a dois! Onde batem primeiro, a nossa boca fica cheia de sangue e nos perguntam o sabor, onde passamos mal, mas é tudo invenção e histórias de doidos.

Preto,
Quase que perco de mim e me encaixo no que acham melhor. Quase que não tenho o direito de ser quem eu sou ou de falar por mim. Sabes porquê? Porque a minha dor levanta a história abafada, o meu olhar influencia manos pretos calados, a minha cara passa a ser futuro, o meu sangue é o sangue dos que contam a minha história e do meu passado sabem tudo...Ao meu passado dei poder e glória, para o meu futuro levo resistência e vitórias!


Navváb A. Danso




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