O VOLUNTARIADO EM ÁFRICA: É ÚTIL?

A pergunta é clara e a minha resposta também: Não, não acho que o voluntariado seja útil para o continente Africano e sim, posso explicar o motivo. Nota bem que falo do voluntariado que hoje está na moda, em que jovens europeus se "aventuram" com um mochila nas costas, entrando assim no continente Africano, por um período determinado.

Dia 25 de Maio é dia Mundial da África e neste dia, não suposto só celebrarmos as diferentes culturas que existem no nosso continente, mas sim promovermos um debate sério e relevante, sobre o futuro do nosso continente a nível político-social, no âmbito daquilo que é o pensamento Pan-africanista. Este debate, tendo em conta os tempos que vivemos, deve ser estendido por todos os dias, porque os problemas existem e as soluções devem, repito, devem partir de nós, Africanos. Já não estamos em uma fase embrionária a tentar perceber 25 de Maio, já não estamos em uma fase embrionária a tentar perceber as soluções. Nós, jovens Africanos, devemos estar cada vez mais inseridos naquilo que é o nosso contexto e naquelas que são as problemáticas do nosso continente (mesmo e principalmente se estivermos fora do nosso continente).

Dito isto, pensar África hoje, Maio de 2020, é pensar desenvolvimento! Não existe outra história, outro contexto e outra solução que fuja da palavra desenvolvimento. Ora, não falo do desenvolvimento desenhado pelo "ocidente", falo de um desenvolvimento gerado pelos filhos de África, pensado para o bem deste mesmo continente, considerando os diferentes contextos dos países. A solidariedade de terceiros, não deve e não pode, em momento algum, ocupar aquele que é o lugar do ator local, no que toca à construção de um ambiente propício para que haja o tal desenvolvimento local. Deixa-me só explicar: estou a descartar a presença de terceiros em um ambiente que ainda não se percebeu o potencial dos primeiros. Não existirá desenvolvimento sustentável do nosso continente, se forem os outros a pensarem por nós.

Quando eu falo de desenvolvimento sustentável, falo de países que aprendem a extrair o que de bom há nos seus territórios, e comandam os processos relevantes, de modo que não haja dependência no básico. "Andar com as suas próprias pernas", é disto que falo. Mas então, devem estar perguntar, o que o voluntariado bom e inocente que vcs ou os vossos amigos já fizeram, tem a ver com tudo isto...Tudo! Tudo tem a ver com a entrada de pessoas para trabalharem em projetos que atingem diretamente o desenvolvimento social de uma região e um país. A tua análise é egoísta se pensares que o voluntariado é bom porque foi uma forma de te enriqueceres a nível cultural. Não foi uma troca, não teve impacto positivo a nível social que daqui a pelo menos 5 anos, poderá se notar. Desculpa, mas não houve. Enquanto o voluntariado não estiver devidamente organizado e enquanto atividades de organizações e instituições não forem corretamente "manipuladas", as tuas colegas que terminaram um curso e "falam inglês", vão atravessar o continente e vão se tornar professoras, quando na verdade não têm capacidade para o ser cá na Europa. Enquanto os recursos humanos locais não forem devidamente organizados, enquanto não existir um devido investimento nas pessoas de um país, e de uma região, o de fora será sempre o melhor.

Podem afirmar que o voluntariado não é isto. Ora, o voluntariado está a ser isto na grande parte das vezes e é sobre o que está a acontecer que deveríamos debater e não sobre o que deveria acontecer, mas que não acontece porque há "pessoas desviadas". Falamos do problema e não precisamos idealizar o que está devidamente organizado e fora da teoria. Se África abre as portas para o voluntariado, o voluntariado não deve ser um voluntariado qualquer. Pessoas não devem estar aí só "porque sempre sonharam ajudar crianças e pessoas pobres"...Devemos sim acabar com esta cultura de constante solidariedade sem análise dos impactos deste ato. As ajudas não devem nunca sobrepor aquilo que é racional, correto e devido. Se mãos de obras não qualificadas não desempenham estes papéis aqui na Europa, porque raio deveriam desempenhar "algo superior" em África? Justo África, um continente que deve ser pensado com um olhar positivo e com atitudes positivas e boas a longo prazo.

A ajuda, da forma como tem sido dada, está a formar um ciclo que poucos sabem como quebrar. Um ciclo de dependência e de calamidade...um ciclo injusto, um ciclo tóxico e um ciclo terrível para o desenvolvimento sustentável. A grande maioria das pessoas prestam um papel de "branco salvador", tiram foto de crianças, expõem nas redes sociais e acham que ganharam autoridade para comandar discursos e conversas sobre aquilo que é o nosso continente. Assim como uma minoria desempenha um trabalho excelente, mas mesmo assim não serve para aquilo que é o desenvolvimento que hoje devemos desenhar para África. Não se trata da intenção de muitos, estamos a falar de um complexo sistema que durante décadas formatou a ajuda, a ação e o seu impacto. Não estou a invalidar a tua intenção, o teu amor e o teu carinho, estou a explicar que não é disto que África precisa a nível político e social. Não é de generosidade que vive a política, e infelizmente não é de contos de fada que se transformam comunidades.

O mesmo se aplica ao pensamento de "eles precisam de ajuda". A ajuda não precisa e não convém vir constantemente de fora quando falamos de um continente que deveria ter tudo para se levantar sozinho. Não tem, é verdade, de momento não tem, mas deve trabalhar para ter. Enquanto estivermos ocupados a inventar histórias apaixonantes para o desenvolvimento, eu prefiro passar a ideia correta daquilo que é o desenvolvimento: POLÍTICA...e na política não há histórias apaixonantes.
De uma vez por todas, que tenhamos a capacidade de pensar e ver África como um potencial que deve se preocupar em elevar os seus para que estes possam melhorar o continente. O voluntariado, na sua maioria, tem um impacto positivo a curto prazo. Há uma experiência incrível de uma parte, e isto sem dúvida não se deve desmerecer, mas a verdade é que não é disto que África precisa, não é disto que vivem as pessoas e não é assim que se faz política.


Navváb A. Danso