AS REDES E O SOCIAL



Todos nós já partilhamos ou pelo menos já assistimos aqueles vídeos bonitos de famosos e conhecidos que falam sobre a independência e a necessidade de abandonarmos os telemóveis em momentos tão importantes quanto um jantar e um passeio, durante uma conversa com um amigo e durante um café sozinho. A emoção que sentimos é tão intensa que muitos de nós até consideramos abandonar o telemóvel, ir refletir sobre a vida e olhar mais para o céu. Após uma hora sem utilizar o telemóvel, sentimos que somos os melhores e que agora sim podemos dar lições de vida. Existe só uma cena que a mim faz confusão, deixamos com que um vídeo encontrado na internet, nos elucide relativamente às nossas práticas. Tínhamos de estar na redes sociais, cheios de sede e talvez seca do mundo real, para aprendermos o que realmente vale a pena tentar, para aprendermos que o offline existe e é bom.

Fomos influenciados. Só o facto de termos encontrado o vídeo na internet e de possivelmente termos partilhado e reagido como fazemos aos restantes vídeos, memes e variadas imagens, prova que nada disto é tão especial quanto imaginamos. Talvez o que é verdadeiramente especial é tu aprenderes a selecionar melhor aquilo que consomes, pensando na tua saúde mental, no teu bem-estar, no teu aprendizado e na tua evolução. Yuval Harari fala da importância de sermos nós a controlarmos a tecnologia antes que ela nos controle. Uma coisa tão simples nunca fez mais sentido, acaba por ser uma questão de sobrevivência. Procurem obras deste historiador Israelita, vão ficar fascinados tal como fiquei.

Parei de seguir muita gente e isto é um perigo nesta era de redes sociais, amizades virtuais, conexões fora do dito normal e laços que arrebentam com um simples “não gosto mais” seguido de um “Unfollow” e tchau! Deveríamos levar tudo isto na desportiva…Se tu não gostas ou não te identificas e simplesmente não queres consumir o que partilho, não é preciso me seguires. As cenas podem ser ainda menos profundas do que isto, eu posso simplesmente não me lembrar, não considerar e não querer ver o que partilhas…Qual é o mal? Conheço pessoas sensacionais que nas redes sociais são estranhas para mim e não têm absolutamente nada a oferecer para a pessoa que sou e tendo em conta os pensamentos que tenho e partilho. É pecado não seguir mais ou nunca ter seguido? Há pessoas que gosto muito, que respeito muito, mas que não acho necessário ter nas minhas redes sociais, isto é terrível?

Para quem partilha textos com o mundo na internet, talvez esta não seja uma “abordagem apropriada”, mas pergunto qual a melhor abordagem? Implorar para que as pessoas me sigam ou tentar ao máximo divulgar o meu trabalho, promover os meus textos, falar sobre eles, incuti-los em conversas e debates que tenho, e aguardar para que as pessoas leiam e se identifiquem (ou não)?

Continuo a achar que apesar de estarmos neste jogo, a parte humana vai sempre falar mais alto. Quantas vezes segui pessoas muito populares por impulso e depois deixei de as seguir por achar que não me identificava com o conteúdo? Já te aconteceu também?

Hoje em dia se não partilhamos nos stories, não fomos a lado nenhum e não fizemos nada. Se partilhamos alguma coisa, somos reduzidos à selecção de coisas que decidimos partilhar.
Deixamos com que as redes sociais e todos estes simples cliques controlem as nossas vidas. Tudo isto passou a administrar os nossos sentimentos e a comandar o nosso dia. Se as redes sociais existem e compramos um telemóvel e/ou outro dispositivo para poder estar nelas, porque não manipular e organizar toda a informação e o tsunami de imagens, vídeos e reações que chegam até nós?

Eu vivo em uma sociedade maioritariamente branca, sexista, racista e em parte conservadora. Lido com muitas frustrações e questões durante o meu dia-a-dia e para mim é uma questão de sobrevivência abrir as minhas redes sociais e ver vídeos de amigos e casais negros e Africanos felizes e bem-sucedidos. Dá-me imenso jeito rir durante a minha viagem de metro, por isso no meu instagram sigo páginas que me enchem de vídeos de crianças negras e Africanas a cuidarem dos seus cabelos (ou pelo menos a tentarem), a dançarem ou a falarem.
Em um dia relativamente chato e por pouco mau, dá-me jeito chegar em casa, abrir o youtube e ver tutoriais da melhor forma de refazer as tranças e os twists para renderem mais dayafters.

Dá-me imenso jeito saber que uma influencer negra e Africana acabou de atingir 1000 subscritos, dá gosto ler frases nas línguas que percebo e que não são Europeias, perceber coisas que me afastam da realidade por vezes incomodativa e seguir o dia com estas simples alegrias.

Talvez a tua realidade seja oposta à minha, talvez não faças parte de uma minoria, podes muito bem manipular tudo o que é informação para que tenhas um feed mais feliz, mais intenso, mais bonito para ti. Podes encher o teu feed de inspirações tendo em conta as tuas aspirações…Todos nós temos dias difíceis independentemente do sítio onde estamos e da nossa condição na sociedade e todos nós somos alvos fáceis para Mark Zuckerberg e o seu império…Com isto, tentativa nenhuma de diminuir a sua criação, trouxe razão a imensas coisas, deu força a imensas lutas e não veio e nem deveria vir com um folheto para melhor utilização. O maior responsável somos nós e não podemos perder este papel e esta responsabilidade, caso contrário estaremos a viver pela tecnologia e não teremos a capacidade mais de criar e usar estas ferramentas para o nosso bem-estar.

Eu uso plataformas online para partilhar o que escrevo, não será para sempre o meu lugar, mas é um lugar que hoje é garantido e que me faz bem e influencia outros também. Porque não aproveitar disto tudo e organizar isto tudo para a minha felicidade e a felicidade de quem se identifica comigo?
Enquanto fazemos dramas, cortamos contactos com pessoas só porque elas não aceitaram seguir o mesmo baile que nós, há gente preocupada em melhorar a sua vida e a sua saúde mental que começa no mais simples e nunca acaba no mais complexo!
A Beyoncé nunca te seguiu e provavelmente nunca vai, mas mesmo assim estás aí a aumentar o número de seguidoras dela, também estou eu! Diz-me então qual é a cena em obrigar os outros que provavelmente te querem bem e tentar obrigá-los a gostarem e a fazerem o mesmo que tu?

Na esperança de que de hoje em diante vais usar isto tudo de maneira mais calma e confortável, isto foi só um recado. Agora dá só uma vista de olhos no teu feed, vê se o que consomes tem feito algo por ti ou pelo teu eu do futuro, mesmo que só um bocado.


Navvab A. Danso

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