O CÂNTICO POR UMA REVOLUÇÃO


Dizem que quem canta seus males espanta.

Cantamos “Sodade” na esperança de voltar, esperamos voltar quando as condições forem melhores.
Lamento porque os males não se vão embora, parecem multiplicar e os espantos estarão sempre do lado de quem canta.

Amílcar Cabral, o pai da revolução, da liberdade e da independência política de Guiné e Cabo Verde. Não tínhamos dúvidas, estava tudo claro, ou não estava?
Lamento o desgosto de quem tinha a certeza. Os nossos tempos têm sido intensos e cheios. Cheios de dúvidas, cheios de arrependimentos, medos, falta de investimento, perdas…Pensei também em desvios e alguns bolsos cheios.
Prometemos voltar, eu mesma prometi. O que nos faz recuar e atrasar este regressar é que o cantar da nossa morna, não nos tira o desgosto da realidade. O que nos faz recuar é saber que a malta da nossa ilha vulcânica ainda tenta melhorar, recuperar e se inspirar, para viver os dias mais complicados com falta de algo. Falta sempre algo o que a mim mete impressão depois de ter visto tantas doações. Podemos falar de falta de capacidade de gestão, ou até na triste realidade de que nem tudo é o que parece e aquela gente precisa é de mais, mas eu prefiro pensar na maldade. Em tempos como estes, é necessário pensar na maldade.

Pedem-nos o real, incentivam-nos a caminhar, entretanto dão meia volta e se vão, depois de largarem as nossas mãos, andamos à procura de uma luz, há quem tenha a sorte de ter uma cunha e um padrinho bom.

Pessoalmente acho bonito fazerem festivais, inicialmente é alucinante e toda gente cai no: andam a investir na nossa capital! Milhares para um carnaval, que não vale transmissão em nenhum canal, enquanto ignoramos os factos reais: São Vicente e São Nicolau precisam de mais, São Vicente e São Nicolau continuam a liderar o samba e tal.

Continuo a achar piada às músicas que tocam mais, acho bonita a forma como ignoramos estas cenas reais. Sem tirar o mérito de quem mandou beber, comer e dançar, Hélio Batalha ainda continua nos seus mil e tal, nunca vi atingir milhões nas músicas que destroem preconceitos e desvendam roubos fatais... Acho que para esta geração ficamos assim ou recuamos mais.
Todas as vezes que ousamos desafiar um conjunto de jovens que se formam como animais para defender músicas e festivais, saímos a perder e a mensagem é passada e tomada como chacota e perda de tempo de quem nada tem para cultivar na sua mente vã, cheia de ideias "demais". Sei bem que prémios nunca fazem valer a arte, entretanto reviravoltas são importantes, mudanças são essenciais, a falta de reconhecimento assusta porque indica que quem recebe a nossa arte não é quem realmente precisa.

Fazemos viagens intensas, procuramos voltar, damos voltas e descobrimos coisas incríveis, procuramos partilhar, mas partilhamos com quem, se quem lidera ainda acha que Cabral não foi o tal?

Navvab Aly Danso

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