IDENTIDADE DO CABO-VERDIANO

Será que sabes disto? Tenho um papel em branco, matéria pronta a ser usada, portanto, não resisto.

Problematizar com algum desespero para ver se a gente se intende de uma vez por todas, ao falar de identidade metemos medo aos habitantes das ilhas todas.

1460 tentativas até descobrirem o que hoje simboliza, o ponto estratégico para levar barcos com vida, de uma ponta à outra, da civilização para o desconhecido, ainda que meio domesticado e agredido, continuava a cantar a sua cultura e a viver a sua verdade como se fosse vinho. 

Mulatos nascidos de uma realidade pouco romântica e infelizmente tudo isto não é muito antigo.
Avós violadas, mulheres usadas, para que hoje me venhas cantar com garra, e afirmar que te sentes melhor que o vizinho, preto retinto? Desisto!

1460 tentativas, anos vivos, contagem regressiva, ou marca de uma saída, para quem viveu durante muito à espera que a história fosse verídica. "Padres Cabo-Verdianos muito bem educados foram enviados para a metrópole"...Ideia grossa, não me esqueço de um episódio, um padre preto agradeceu todo este circo de ódio, a civilização foi levada e fomos salvos da barbárie de outros territórios.

Uma lavagem cerebral que conta com a ajuda do próprio dono do cérebro, é assim que eu defino a problemática identitária do Cabo-Verdiano. Por anos foi construção e imposição de memória, mais tarde desinteresse de quem não quis saber da sua história. Pegou-se na escova e escovou-se a mancha negra, lavou-se com lixívia e embranqueceu-se esta vertente.

O lado negro da história nunca conheceu vitória. Parece que estamos em um filme onde o actor anda à procura de mais um perigo, contentou-se com a realidade de ser apenas um amigo e inimigo da sua própria pessoa, no que toca a um país, história.

"Afinal, não temos absolutamente nada em comum com eles"
Nunca procuramos afundo, parece absurdo, quem conta a história perpetua o comum, estamos todos condenados a pensar que o lado de lá é o fundo, cheio de histórias que ninguém quer saber porque afinal, quem são eles quando podemos ter brancos a afirmarem que fomos bons filhos e estamos no bom caminho?

Tentei criar uma sintonia e creio que foi um tiro no escuro, se te atingiu fico cheia de orgulho, se te preocupa acredito que tenhas de olhar no horizonte profundo, se nem sequer fazes parte deste escuro e tens a certeza de que sabes quem és e não te falta modos e mundos, fico desapontada com tudo.

A tua pele clara é fruto do estupro,
Obediência e nunca amor, é tão claro quanto o teu futuro,
Tu és preto, mas visivelmente esquecido,
A cor preta não resistiu às lutas estabelecidas com a tua vontade de ser surdo e mudo.

Os teus traços negros lutaram e hoje afundam,
Naquilo que tu tanto queres, vês, preferes e que hoje não são nem de perto o teu mundo.



Navvab A. Danso

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