SOBRE SUDÃO


Os portugueses abriram uma porta, por detrás da porta havia gente, como sempre...Gente e especiarias. O exótico teria de ser transportado com regalias, o Cabo da Boa Esperança quase os matou, mas mesmo assim, os "tugas" por aí mataram mais.

Inglaterra não conseguiu se controlar, havia algo bom para se explorar, foram pela Esperança, mas sabiam no fundo que havia um quintal, na casa dos nossos também ancestrais.

Do Egipto não podiam abrir mão, se apropriaram da água, Nilo catou todos os corpos dos seus filhos e levou para longe, o canal não podia ser de mais ninguém, o canal de Suez fez Inglaterra ficar de vez.

Invadiram, ataram, se apropriaram, mas antes, compraram o Estado. Império Otomano? Só de enfeite! Afinal quem controlava era a "nova" civilização.

Ignoraram as revoltas de Ahmed Urabi e todos os seus sermões, fingiram despovoar Alexandria! Se retiraram para bombardear e seguir em frente com os seus canhões.

O algodão egípcio sempre foi importante, mas o norte americano era ainda mais. A casa da democracia e da liberdade se recuperou da guerra pela civilização, o império britânico perdeu grande parte dos seus clientes e das suas moedas de maneira rápida, juro, parecia um trovão!

Água, água sempre foi a grande questão! No verão, os níveis eram fracos em algumas partes do Nilo que banhavam o Egipto de Inglaterra, foi preciso alguns estudos que exigiram alguns tostões, para perceber que Sudão era a solução. Dívidas e mais dívidas precisavam ser liquidadas, custe o que custar, o Suez não podia ser de mais ninguém.

Um condomínio Anglo-Egípcio no Sudão, parecia piada! Até parece que este país não tinha tido o suficiente que bastasse aquela gente!! O Norte e o Sul sempre foram separados, técnicas velhas que anteciparam o próprio condomínio. Invasão Turco-Egípcia, exploração dos Sul Sudaneses, negros, pretos, influência Cristã/Animista desde cedo, nada de Árabe e o castanho era diferente.

Controlar Sudão era também travar vilões! França, Itália e seus restantes fãs pelo mundo. Controlar Sudão era controlar de maneira mais sabida o Nilo. Controlar Sudão era estratégico, era bonito. Controlar Sudão era proteger o canal mais querido!

Inglaterra não perdeu o controle total, mas abriu mão do Sudão. Como assim? Mas que piadão!
O Egipto cresceu e uma nação mostrou que não iria de forma alguma permitir mais brancos estrangeiros a liderarem a sua economia. Nasser nasceu pelo Egipto, Nasser morreu neste mesmo sentido! Liderou com garra, conduziu o Egipto, falou de união entre países fracos e dados como vencidos, acendeu a revolução, Inglaterra não gostou nada desta questão, largou a mão do grande Sudão, deixou aquilo bem dividido, a discriminação bem acentuada, misturou bem as tribos, acendeu o fogo e abandonou aquilo.

Na própria independência já havia intriga, como assim os Ingleses dão poder aos que "nunca" tinham sofrido? Árabes, muçulmanos, castanhos do Norte, Khartoum fez mais sentido! O Sul foi novamente esquecido. Nenhuma infraestrutura era construída e nem pensada para aquela região vazia, foi considerada vazia até descobrirem que afinal havia água preta, o óleo da vida!


Nasser perdeu Sudão e viu aquela "nação" a ser engolida pelo monstro colonial. Era uma mais valia largar aquela gente toda quando desse jeito e não fizesse mais sentido comandar aquele território vasto, pouco percebido.

Agora vamos dar um grande salto, não vos quero amassar tanto, deixo estar todo este encanto científico para aquilo que chamam de minha tese e que me mata todos os dias.

Omar al-Bashir contra Salva Kiir. Sim porque assassinaram John Garang, fantasiaram um acidente grande, não sabemos nem "nunca" saberemos o autor deste golpe gigante! Meio tantos conflitos civis, o mundo esqueceu que Sudão algum dia existiu. O Norte, queria a todo custo ter uma nação unida e onde aquela gente toda obedecia as leis de Sharia. O Norte limpou tudo o que via pelo caminho, tinha planos e seguiu despovoando, nunca ninguém ouviu falar no genocídio! O Sul sempre resistiu a esta loucura, derramou sangue, limpou o próprio, seguiu em frente, pediu liberdade, assinou tanto! Em 2011 se separou do Norte, uma nova nação surgiu, a mais nova e a que falha sem dor nem espanto!

Vários facilitadores, mediadores, "amigos" também do petróleo. Sanções foram aplicadas só para enganar o coração da comunidade traumatizada com o que se passava naquele canto. Omar passou por Portugal, os portugueses não tiveram coragem de o meter numa salinha e chamar o TPI entregando quem afinal tinha sob a sua pessoa um mandato de busca, devido a crimes contra a humanidade e de guerra. Irmãos Africanos não o denunciaram e nem tão pouco ajudaram a prender al-Bashir. Durante 3 décadas ele nunca foi pego, nunca pagou pelo que quis, sempre matou e seguiu!

Quanto à barafunda no Sul? Regiões e regiões ainda à espera de decisões! Abyei é um exemplo, comandos criados para controlar a sede dos que estão por dentro! O sistema falhou porque nunca foi sistema, ONU falhou com a sua reconstrução bonita, modelo ideial, mas para o mundo ocidental. Colocaram nas mãos de militares, um país que não sabia quem era nem pela metade. O Norte sempre foi a verdade, perdeu Omar, Omar fugiu, pediram democracia imediata e ninguém os ouviu! Se levantaram contra as armas, neste momento pagam por esta decisão.

As armas de guerra no Sudão, nunca foram só armas de fogo. A fome, a água, a violação, a indiferença e a solidão, essas sim mataram e matam mais! Nos dias de hoje teremos a triste chance de ver cair mais uma nação, o sistema internacional pouco preparado para estas situações no nosso grande continente que chamamos de Mãe! Não vão investir na educação, com sorte invadem, falam um bocado e deixam com que votem no "tal". Saem rapidamente, fogem para os seus lugares confortáveis, e de lá escrevem artigos, acusando o Estado de ser falho!


#PrayForSudan





Observações: Navvab A. Danso, dona deste Blog, é licenciada em Relações Internacionais e neste momento está a concluir o mestrado em Estudos Africanos. A sua dissertação é sobre o Sudão. Questões mais específicas ficam de lado, mas é importante avisar, este texto não é um artigo científico e nem foi construído para o ser. Este é apenas um texto que faz parte do pequeno/grande trabalho de Navvab, no que toca à escrita e à influência digital enquanto AFRIKANA.
Navvab considera importante TODA GENTE partilhar o que sabe, pesquisar o que não sabe e falar sobre toda esta situação. Sim, é assim que fazemos a diferença neste mundo digital!




Navvab A. Danso


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