EU ME PERDI

Nunca me senti tão perdida quanto me senti na época em que me esqueci da minha natureza seca, má, chata, e por todos os instantes, real. Eu nunca te vi tão perdida quanto te vi naquele dia, que aceitaste menos do que realmente me estiveste a confessar que era o teu desejo, quando a sós partilhávamos, medos e sonhos. Baixamos o nível porque afinal é demais para qualquer um, é surreal até mesmo para aqueles que não chamamos de inimigos.

Eu confesso, perdi-me de mim mesma, e eu confesso por ti, estiveste igualmente perdida.
Um simples "sim" quando todos nós sabíamos que seria "não", um aceitar da realidade sem sequer querer saber a razão, um conformar com as palavras e um desacelerar brusco que me fez notar que por um momento, nós estivemos no fundo e queríamos por lá ficar.

Pensas em mim e eu penso em mim, é difícil acreditar que existes em mim, fazes parte de mim, és quem eu sou e nos distanciamos tanto para eu poder reconhecer que preciso tanto de ti. É confuso e foi muito para mim, não percebi que se realmente quisesse iria me distanciar de mim mesma sem ao menos ter em mente da maldade cometida ao querer aceitar apenas a parte boa e prometida.

 É um orgulho ridículo de tão simples, mas carregado de culpa que te faz sentir que afinal o teu eu, vale muito menos do que pensavas. Mediante as dificuldades, eu me perdi, nós nos perdemos, e eu cheguei tão longe que passou pela minha cabeça aceitar e seguir sem luz própria à mercê de pequenas lanternas. Eu vi em ti a vontade de dizer "já chega", pensei por mim, mas na verdade tinha a plena consciência que daí nada mais iria ser certeza. Não faz mal, ao menos reflecti com gentileza e amor.

Eu aprendi, afinal passado não dá grande jeito, viver preso no passado ignorando o presente, condenando o futuro e acrescentando grandes panos imundos à minha visão e criatividade relativamente ao mundo. Eu aprendi que posso ser duas, três ou quatro, posso falar por elas ou por mim, mas na verdade um dia vamos ter de nos encontrar e resolver problemas, deixar secar feridas e deixar de fingir que não existiam. Eu aprendi também, que dentro de mim existe aquela força que tanto falam que poderia vir a usar quando não encontrasse mais soluções, é real, é presente, faz parte de nós, acredita, tem mesmo esta consciência.

Eu aprendi que perder faz bem porque o reencontro é de matar qualquer tristeza ou torcida do mal. Dizem que visitamos lugares distantes, a vida nos reintroduz medos por um instante...queria te dizer que são estes lugares medonhos que nos mostram a beleza da vida, são nestes lugares estranhos que somos livres para escolher, sofrer e depois crescer.

Deixa-me dizer que não deves ter medo de nada, nem tão pouco do escurecer, da chuva, da tristeza e da própria incerteza.

Deixa-me dizer que me reencontrei e foi tão profundo quanto o distanciamento e o meu perder...
Deixa-me dizer que nada neste mundo vale a pena, se não for coberto de surpresas, desafios e coisas más também.

Reencontrei-me, nestas andanças posso me perder assim como tu, mas a verdade é que o levantar, o recuar, o sofrer e o amar, sempre vão fazer tudo parecer real, natural, mais do que um simples avançar.



Navvab A. Danso